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AJUSTES

Ajustes

 

Sonhar com alguém que se ajustará perfeitamente aos nossos padrões e desejos é tão natural quanto respirar, principalmente quando se é um menino.

Não é só que desejamos que a pessoa com a qual vamos nos relacionar se enquadre perfeitamente naquilo que julgamos ser o ideal de beleza: medidas “x”, tamanho “y”, fenótipo “z”, etc. Nós também queremos que o outro tenha um conjunto de atitudes e comportamentos sonhados por nós. Para uns é preciso que a pessoa seja extrovertida, não seja escandalosa, tenha boas maneiras.  Já para outros, tem que ser introvertida, pacata, que não seja tagarela e por aí vai. Vamos montando nossos tipos ideais e no final vamos descobrindo que ninguém se encaixa neles. Bem, a verdade é que talvez nós mesmos não encaixaríamos em nossos próprios padrões e modelos.

Com o passar do tempo e quando a maturidade vem chegando, vamos considerando outras possibilidades. Vamos priorizando aspectos mais subjetivos e desejando que o outro tenha um conjunto de atributos que jamais consideraríamos como importantes antes.

As vezes nos encantamos com coisas bobas e simples como o jeito de andar, o jeito que o outro fecha os olhos quando sorrir, até mesmo a risada espalhafatoso quando contamos aquelas piadas mais sem graças. A cor diferente do cabelo já não nos incomoda tanto, os centímetros a menos ou a mais que julgávamos ideal, os quilinhos a mais, passam a não contar tanto.  O fato de possivelmente a pessoa nunca ser convidada a ser capa de revista, já deixam de ser critérios determinantes para nossas escolhas.

A convivência pode ser uma tragédia. Alguém já disse em algum lugar, não ande com pessoas feias porque você pode se apegar. Deixando de lado a brincadeira, a estética já não nos cativa com tanta força; a beleza é boa para os olhos, mas no geral são outras coisas que fazem bem ao coração.

Nossas antigas prioridades vão se desmantelando paulatinamente. Pois mais que dividir a vida com uma pessoa bonita, queremos dividir a vida com uma pessoa que nos faz bem. Só a maturidade nos faz perceber isso. E ela também nos faz entender que precisamos de ajustes, que precisamos colocar  na balança de nossos padrões coisas diferentes e dar pesos diferentes a elas. Que para uma vida boa nossos critérios precisam se refinar, até porque padrões de beleza mudam.

Viver como um menino não é mais desejável. Nós mesmos vamos nos ajustando e nos reinventando para poder estar prontos para sermos o “padrão” de alguém. Mas conscientes  que o grande segredo são os ajustes necessários que fazemos. O grande padrão e a beleza que importa é a de amadurecermos e de fazer esses ajustes. Isso para não perdermos o melhor do outro e para o outro não perder o melhor da gente.

 

Por Edson Ciso

 

 

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