Mentoreamento e Discipulado
Há um tempo atrás uma palavra chamou minha atenção, um termo que antes não ouvia com tanta freqüência: mentoreamento. Também conhecido como mentoria, esse termo se refere a um relacionamento entre uma pessoa mais experiente e outra geralmente mais nova e do mesmo sexo, no intuito de caminhar juntos e prover auxílio ao mentoreado nas diversas áreas da vida. Isso pode ser melhor entendido da seguinte forma:
Você já andou de carro por uma estrada em que a neblina era tanta que você mal conseguia enxergar três metros à sua frente? Essa experiência pode ser pavorosa. Mas, se houver outro carro a sua frente e você puder seguir as lanternas dele, dirigir em meio à neblina pode não ser algo tão assustador assim. ¹
Isso é mentoreamento, é fornecer luz, é guiar, é dar a direção e seguir junto em meio aos obstáculos que vão surgindo. O mentor é alguém que realmente faz a diferença na vida do mentoreado, através de um relacionamento profundo e de acréscimo. Podemos ver na Bíblia vários exemplos de mentoreamento, por exemplo, Moisés e Josué (Ex 24.13; Dt 31.1-8), Elias e Eliseu (1 Rs 19.19-21; 2 Rs 2.1-16), Barnabé e Saulo (Paulo) (At 9.26-30, 11.22-30), Paulo e Timóteo (At 16.1-3; Fp 2.19-23; 1 e 2 Tm). Nesse momento você pode estar se perguntando “Isso não seria discipulado? Em que o mentoreamento difere do discipulado? É apenas um rótulo para discipulado?”. Não é bem assim, vamos esclarecer um pouco mais as coisas!
Ao nos voltarmos para o significado raiz das palavras entenderemos melhor. A palavra discípulo, segundo alguns dicionários, significa “aquele que recebe ensino de alguém ou segue as idéias e doutrinas de outro; aluno, estudante, aprendiz”. Podemos ainda nos aprofundar mais e perceber a corroboração da palavra em sua origem, a palavra discípulo do grego “Mathetes” do verbo “Mathano”, significa aprender.
Já a palavra mentoreamento significa “guiar, ensinar, aconselhar outro, orientar um jovem”. Originalmente o Mentor, nome próprio, é um personagem do poema épico de Homero, A Odisséia. Mentor é designado por Ulisses – o qual vai à Guerra de Tróia – a ser o guardião, tutor, supervisor de seu filho, Telêmaco. Os autores do livro “Como o ferro afia o ferro”² distinguem mentoreamento e discipulado da seguinte forma:
Qual é a diferença entre mentoreamento e discipulado? Ambos se relacionam, mas não são exatamente iguais. O discipulado inclui um chamado, um convite direto de um professor que beira uma ordem. Jesus disse aos pescadores Pedro e André: “Sigam-me”; e “no mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram”. Depois ele encontrou por acaso seus colegas, Tiago e João. Novamente, “Jesus os chamou, e eles, deixando imediatamente seu pai e o barco, o seguiram”. O mesmo padrão se repetiu com o resto dos Doze. (…) O discipulado, como vemos hoje em dia, tende a limitar seu foco a dimensão espiritual. (…) O mentoreamento, pelo menos quando praticado por cristãos, deveria centrar tudo em Cristo. Mas o mentoreamento trata menos de instrução do que de iniciação – levar homens à maturidade. Enquanto a palavra para discípulo significa “aprendiz”, a palavra mentoreado vem de uma palavra latina que significa “proteger”.²
Um discípulo está para o mestre assim como o servo ao senhor, um mentoreado esta para o mentor assim como um sobrinho ao tio. Um relacionamento mais íntimo e de acompanhamento não só de uma área, mas que engloba o todo.
Na verdade, não existe essa história de discipulado versus mentoreamento, ou ainda, mentoreamento versus aconselhamento, eles funcionam melhor ao andarem juntos. Podemos considerar termos distintos? Sim, podemos. Podemos considerar uma sobreposição? Sim, também podemos. Importa menos os termos e mais a essência e a atitude. Se relacionar a ponto de poder contribuir para o desenvolvimento de alguém, de orientá-lo, de não ser apenas professor, mas de fazer parte da vida de outro, certamente é um padrão bíblico que devemos seguir.
Por Valéria Andrade
¹ JAYNES, S., TERKEURST, L. Quem? Eu? Mentora?. In: O livro das virtudes da mulher. 1 ed. Mundo Cristão, 2004.
² HENDRICKS, H. D., HENDRICKS,W.G. Como o ferro afia o ferro. 1 ed. São Paulo: Shedd, 2006.
Gostei demais , essa matéria e muito explicativa e tirou muito minhas duvidas.
Obrigado.