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Para pensar em deus

 

Muito se fala e se ouve falar de Deus. E há muitos deuses conhecidos ou, se você preferir, há muitos deuses reconhecidos. Pensando a partir de nossos sentidos, há muitos deuses percebidos. O mundo está cheio deles. O mundo está cheio deles porque o mundo está cheio de homens e os homens precisam explicar o mundo. Como existem inúmeras coisas que não conseguimos explicar, compreender ou dar um significado, para estas coisas a categoria deus atende bem as demandas da alma humana.

O conceito de deus frequentemente está atrelado a espiritualidade e a religião e esta, por sua vez, sempre foi objeto de estudo de diferentes pensadores. Durkheim, por exemplo, em seu trabalho, As formas elementares da vida religiosa¹, sugere que a religião, de certa forma, cumpriria esse papel de explicar ou pelo menos dar algum significado ao mundo e com o avanço da ciência paulatinamente os homens iriam abandonando o misticismo buscando, assim, explicações baseadas no saber científico. O positivismo propôs o cientificismo, concepção filosófica que afirma que a superioridade da ciência sobre todas as outras formas de compreensão e de saber humano da realidade – religião, filosofia, artes, etc. – por ser a única capaz de apresentar benefícios práticos.

Independentemente da discussão entre a ciência e religião, a maioria das pessoas concordam que houve um início para tudo que existe. Tudo que podemos vislumbrar e também o que não podemos perceber, por algum motivo passou a existir a partir de um ponto. Existem diferentes teorias que defendem que o universo está em expansão ou que a criação é definitiva, ou mesmo se existe uma criação evolutiva, muito se tem falado a respeito do começo de tudo, mas estas teorias não são nosso foco aqui. Para nós, o que interesse, é deixar claro que a ideia de um começo é corrente.

Tendo isso em mente, gostaria de avançar com a ideia de que para tudo há um começo. Bem, se há um início para tudo, se todas as coisas são geradas ou evoluem a partir de um ponto, este ponto inicial quero chamar aqui de “força criadora” – Sei que aqui entramos em uma tautologia, porque de certa forma inclusive a força criadora teria uma outra força criadora, mas a fim de continuar a argumentação não divagarei sobre isso por um instante. Se existe uma compreensão de que existiu um começo para o universo, as proposições que se seguem talvez não sejam restritas a ciência ou a religião, mas, também, sejam mais de caráter filosófico. Se existiu uma força criadora que deu origem a tudo, pegando a ideia de outro lugar, podemos especular e nos perguntar se o que começou tudo é quantitativamente maior ou qualitativamente superior ao efeito, ou seja o universo gerado.

Um outro fator importante para falar da existência de uma força criadora é a angústia humana. Como já mencionei, parece ser uma característica nossa querer dar sentido as coisas. Dar sentido, dar um significado seja lá ao que for é atribuir-lhe valor; imputar-lhe importância.  Assim, esse anseio por um sentido ontológico a vida, pode de alguma maneira revelar a existência de algo para além de nós mesmos. Isto porque nossa finitude não nos satisfaz. Fica a dúvida se nos encerramos em nós mesmos ou se fazemos parte de algo anterior e maior que nós. Neste aspecto significamos o mundo para dar sentido a nossa própria existência. Essa busca de sentido nada mais é que uma busca de propósito, e, como disse alguém em outro lugar, toda busca de propósito nada mais é, em resumo, que uma busca religiosa.

A respeito da tautologia, a causa inicial tendo uma causa inicial, não seria justamente essa a grande força do fator causal primeiro? O fato de não ter sido gerado, ou seja; de sempre ter existido para além do que nós categorizamos como sendo espaço tempo. Não é isto que se quer denominar eternidade, algo que está fora dos limites do tempo e que não pode ser contido em nenhum espaço, porém tudo ocupa e transita no passado, presente e futuro. Este fator não poderia evocar para si o que o senso comum categoriza como deus? Não seria este o Deus?

Dada todas as proposições, resta-nos saber como esse Deus deseja se relacionar com os homens. Se ele pode ser achado, ou se se permite descobrir. Resta saber se esse Deus interfere positiva ou negativamente na criação ou se o universo segue seu curso livre sendo este Deus apenas um expectador. Resta saber se uma vez cônscios de que existe um Deus e nisso tendo fé, o odiaremos ou o amaremos e que implicações essa busca terá em nossa existência.

 

Por Edson Ciso

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