Todosvida

Coração no deserto

Sou daqueles que amam o livro de Eclesiastes, dos que acham que é um livro para gente adulta. Penso que definitivamente não dá para ler Eclesiastes e não sentir um frio na barriga. É um livro que nos deixa com os pés descalços e em contato com a vida, com o mundo como o mundo é.

Quando o escritor deste livro diz por exemplo: “Observei ainda e vi que debaixo do sol não é dos ligeiros a carreira, nem dos fortes a peleja, nem tampouco dos sábios o pão, nem ainda dos prudentes a riqueza, nem dos entendidos o favor; mas que a ocasião e a sorte ocorrem a todos”, como não tremer? (Cap. 9:11). A vida é um conjunto de fato sem sentido, como diria o sábio?

Às vezes, não compreendo algumas adversidades da vida, não vejo sentido nenhum em alguns momentos em que a “ocasião” e a “sorte” não parecem nem um pouco favoráveis à nós. Nestes momentos sinto-me com os pés em contato com a terra, e num lampejo de lucidez concordo com o sábio: “tudo é vaidade, nada faz sentido”. Num desses momentos críticos me vi assombrado por um texto de Moisés, o que me deixou ainda mais reflexivo:

“…E te lembrarás de todo o caminho pelo qual o Senhor teu Deus tem te conduzido durante estes quarenta anos no deserto, a fim de te humilhar e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos”(Dt. 8:2).

Nestes dias de deserto, de adversidades, que a “ocasião” e a “sorte” não caem bem, é que realmente a natureza do nosso coração é revelada, é o que o texto parece indicar. Talvez seja realmente só nestes dias que somos profundamente colocados a prova, e, é aí que saberemos se andaremos com Deus independentemente das circunstâncias ou não. Os dias afortunados nos trazem gratidão e louvor, mas os dias de privações, dor e medo, o que trazem?

Quando nos vemos no deserto devemos orar para lembrar que Deus continua sendo bom, orar para Deus não permitir que as lutas embacem nossa visão. Devemos colocar nossa esperança neEle em sabe que não sobrevêm nenhuma tentação sobre nós, senão humana; e que fiel é Deus, o qual não deixará que sejamos tentados acima do que podemos resistir, antes com a tentação dará também o meio de saída, para que a possamos suportar (1 Cor10:13; paráfrase minha).

Por causa desta esperança, embora ‘adultizado’ pelo livro de Eclesiastes e cônscios de que a “ocasião” e a “sorte” ocorrem a todos, tremamos e temamos por manter um coração firme mesmo no deserto. Pois de tudo sei que: “…Deus há de trazer a juízo toda obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau” (Ec.12:14). Que tudo que o deserto seja capaz de revelar em nós seja um coração firme em Deus.

Por Edson Ciso

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